#55 - Por que eu não procuro a criatividade
Sexta-feira, 10 de janeiro de 2025.
Tenho 21 minutos pela frente e absolutamente nada a dizer.
Quem inventou essa ideia de “páginas matinais” certamente tinha um parafuso a menos.
Quem é que tem o que dizer assim que acorda?
Eu tenho sempre algumas palavras na ponta da língua (“preciso dormir mais” ou “hoje não quero trabalhar”), mas estas não servem.
Preciso procurar mais fundo, mais dentro, e encontrar aquelas palavras que se escondem atrás do suspiro, aquelas palavras que estão prontas para sair, mas que, por vergonha, permanecem ali dentro.
Acho que todos nós temos essas palavras — eu estou cheio delas.
Cheio porque tenho muitas e cheio porque quero que elas saiam, ganhem o mundo, parem de me incomodar, desapareçam.
Eu tento colocar algumas dessas palavras nessas páginas.
Algumas me obedecem, mas outras teimam em voltar. Esse “exorcismo gramatical (?)” não funciona tão bem assim.
Mas talvez nem seja esse o ponto e eu é que esteja esperando os benefícios de uma terapia em algo que não se deve esperar benefício algum.
“Mas você não escreve para ser mais criativo?”, você pode perguntar?
E eu respondo que sim, mas com um porém: esse é o tipo de coisa em que é impossível negociar.
Não existe nenhuma transação comercial. Eu não ofereço 37 linhas escritas à mão em troca de 40 minutos de criatividade.
Se ela resolver dar as caras, contudo, irá me encontrar mais disposto e receptivo ao que ela tem a dizer.
(Talvez seja assim que a oração funcione, com a diferença de que Deus sempre nos procura e nós sempre encontramos motivos para não querer ouvir o que ele tem a falar.)
Olho no relógio e ainda me restam 9 minutos.
O resultado já está melhor que o esperado. Talvez quem pensou nisso realmente saiba de alguma coisa, afinal.
Muitas palavras, contudo, permanecem aqui: não encontraram outra parte, o par, para chegar a essas páginas.
Tudo bem. Amanhã é outro dia.
Quanto à criatividade, só poderei julgar ao final do dia, olhando em retrospecto.
Agora, posso dizer que ela não “chegou” — como se a criatividade fosse um trem com hora marca para chegar!
Talvez — e só talvez — a criatividade seja como a felicidade de que fala Viktor Frankl em seu “Em busca de sentido”:
“Não procurem a felicidade.
Quanto mais a procurarem e a transformarem num alvo, mais vocês vão sofrer.
Porque a felicidade não pode ser perseguida; ela deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior que a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser.
A felicidade deve acontecer naturalmente; vocês precisam deixá-la acontecer não se preocupando com ela.
Quero que vocês escutem o que sua consciência diz que devem fazer e coloquem-no em prática da melhor maneira possível.
E então vocês verão que a longo prazo - estou dizendo: a longo prazo! - a felicidade vai persegui-los, precisamente porque vocês esqueceram de pensar nela."
Seja como for, se ela aparecer, estarei aqui.
Um abraço,
Catapan