O @geit.eero é um perfil de fotografia que fala como um The Sims e que ensina, mesmo sem querer, uma valiosa lição sobre a escrita:
Antes de rabiscar as primeiras palavras, seu olhar precisa estar atento.
É só entrar lá e conferir (sugiro depois de terminar o texto e deixar seu like).
Um ângulo, um contraste, uma linha… um acaso que, ao ser observado, vira uma foto.
E, quase sempre, uma boa foto.
Aí está o paralelo com a escrita. Uma ocasião, uma frase, um aprendizado, uma mosca sobrevoando a plateia, algo, qualquer coisa, pode virar um texto.
O segredo está em encontrar algum “ângulo” interessante para o assunto — e nem precisa ser tão diferente assim.
Pode ser, inclusive, usar o exemplo de um perfil de fotografia para falar sobre escrita.
A questão é que os olhos precisam estar atentos se queremos alguma inspiração.
Porém, se ficamos o tempo inteiro cheirando pixels e mal temos tempo de pensar naquilo que estamos assistindo — porque esse é objetivo, não pensar, mas consumir — o trabalho fica um pouco difícil, não é mesmo?
Este olhar faz parte do processo criativo.
É uma forma de colocar o cérebro para trabalhar, pensando em formas de falar de um assunto que vão além do “descubra como…”.
Mas a inspiração, por melhor que seja, não basta. Ela é apenas uma parte — uma pequena parte — do processo.
É preciso trabalhar, dar forma àquele pensamento, escrever e reescrever.
Editar, refinar, lapidar.
Só com o trabalho — concreto, real e, por vezes, chato — é que algo realmente bom pode aparecer.
Então, que lição fica se queremos encontrar boas ideias?
O primeiro ponto é estar atento ao mundo — e pode ser o mundo de si mesmo — para encontrar “o que falar”.
Com certeza, há combinações interessantes que só você está vendo — e das quais só você pode falar.
Depois, o trabalho.
Nenhum livro se é escrito num dia, mas praticamente todos os grandes autores tinham uma rotina bastante específica de como trabalhar.
Há dias em que uma boa ideia “aparece” pronta.
Há dias em que a insistência “cria” uma boa ideia.
A única coisa que se pode garantir é que uma boa ideia não nasce “do nada”, como se uma lâmpada acendesse sobre a sua cabeça.
Deixemos isso para os desenhos animados.
Um grande abraço,
André Catapan
P.S.: Estou lendo Feérico Luar no Copacabana Palace, do Alexandre Soares Silva e é uma das leituras mais engraças que já fiz. Criativo, absurdo, muito bem escrito. Que livro gostoso de ler. (Conselho: não leia em público, ou pode, como eu, passar vergonha de tanto rir.)
P.S.2: Gostei muito dos comentários no meu último post sobre a “baixa crença de autoeficácia”. Somos todos mais ou menos iguais, ao que parece. Obrigado!