36 - Aprendendo a convencer com Gustavo Corção
Um dos perfis que mais admiro no Instagram é o do catequista Alam Carrion.
Alam responde as principais dúvidas sobre a Fé Católica de uma maneira totalmente adequada para o meio que usa.
Suas respostas são didáticas, seu conhecimento é sólido e sua paciência é louvável.
(Eu mesmo não teria paciência para responder 17x por semana “porque vocês católicos teimam em adorar imagens??????” ou “onde está na Bíblia que…”)
O perfil do Alam é um bom exemplo do que acontece quando estamos nos comunicando com os níveis mais baixos da escala de consciência de Eugene Schwartz.
E quem já trabalhou no “nicho católico” deve saber a dificuldade que é comunicar-se com esse público.
E como é ainda mais difícil convencê-lo a agir.
Com toda a certeza, o erro é todo nosso, do comunicador — até porque, a atitude de sempre culpar os outros nunca vai te levar muito longe na vida.
Se você ler Aristóteles em Nova Perspectiva, de Olavo de Carvalho, verá uma explicação muito boa de como o discurso avança em graus de probabilidades.
Ou seja: antes de uma pessoa ser completamente convencida, ela primeiro precisa aceitar que uma premissa é possível, verossímil e provável — talvez não nessa ordem, não me lembro.
Mas só depois é que entra a certeza.
É por isso que Olavo recomendava começar um “esforço de conversão” — mas duvido que ele tenha usado esse termo alguma vez na vida; é 100% meu, e por isso é feio — com a Vida dos Santos.
Nos dois anos que dei catequese para adultos, pude ver de perto como o conselho é verdadeiro.
(E é por isso, é evidente, que tanto já se falou e se vendeu sobre a importância de saber contar histórias para vender um produto. E a resposta é simples: elas são as melhores maneiras de avançar o nível de consciência do seu leitor.)
E como se a experiência não bastasse, encontrei no livro Claro e Escuro, de Gustavo Corção, alguns conselhos preciosos:
Nos dirigimos a um público imbuído da linguagem liberal-burguesa ou da sua antítese totalitária. Temos de falar, dentro de uma civilização, contra os seus critérios. Temos de nos dirigir a pessoas impregnadas de postulados que levam a conclusões opostas às nossas.
Muito pregador, sobretudo em nosso meio católico, tem o vício cartesiano de acreditar demais no valor das idéias claras; e daí passa a pensar e a dizer que só por má-fé não se convence quem o ouve.
Parece-lhe que deve ser claro para os outros o que sente em si mesmo como claro, sem lembrar que, na falta da verdadeira evidência, muita claridade aparente vem do hábito mental, do sistema interior e inconsciente de idéias referenciais.
Mas, se é impossível a demonstração cabal, impossível não é o tratamento indireto que produza no ouvinte, ou no leitor, um primeiro abalo, uma primeira simpatia que, por sua vez, produza a revulsão de suas próprias energias espirituais, e a disposição de aceitar o penoso trabalho de uma revisão profunda de valores.
O que nos anima em nosso trabalho não é a claridade fácil da tese e muito menos a faiscante claridade de nossos argumentos. O que nos anima é a convicção da força que tem a verdade, ainda que obscura, e da intrínseca boa disposição que sempre há de existir nas profundezas da alma humana.
O método para utilizar esses dois preciosos fatores não pode ser o da impassibilidade de um professor de matemática. Não deve ser também a da pedagogia que se firma na ostensiva superioridade do mestre que tem a verdade no bolso. Não pode nem deve ser o implacável método cartesiano, que nesses problemas são ridiculamente inadequados.
Ao contrário, para atingir o lugar secreto onde se instala a dogmática pessoal, é preciso usar processos mais humildes e mais cordiais. Saberemos fazer?
Rezemos pelo Alam.
Até semana que vem!
Catapan
P.S.1: Terminei o livro do Simenon e simpatizei com o Comissário Maigret. Poirot ainda segue — e será para sempre — o meu favorito, mas gostei de conhecer um “novo amigo”.
P.S.2: Comecei a ler Um certo capitão Rodrigo, de Érico Veríssimo.
P.S.3: O último filme/episódio especial do South Park está muito engraçado. Se puderem, assistam.
P.S.4: Como os medievais identificavam os santos nas pinturas e nas catedrais? Essa thread do X mostra muitos santos e seus ícones.